Thursday, February 4, 2010

ZANZIBAR, OU A MAGIA DO ÍNDICO










Stone Town. Quatro da tarde. Um sol abrasador e todos sentados à espera dos primeiros acordes do Sauti za Busara. É o segundo dia do festival de músicas do mundo que, todos os anos, em meados de Fevereiro, ocupa o Old Fort e que, seis anos depois da estreia, se apresenta como mais um motivo de peso para visitar Zanzibar.
O grupo, relaxado de uns dias de praia no Baraza?Resort, já sabe o que esperar do antigo forte – recinto em forma de anfiteatro, chão de terra batida e erva aparada, agora colorido com turistas e curiosos, entre bancas de artesanato e roupa, e exposições a céu aberto -, e por isso está sem pressa. Sabe que ali vai ao encontro das culturas e sonoridades africanas, de Nairobi ao Cairo, de Casablanca a Youndé, passando pela música popular de Zanzibar (Taarab). Esta será a última paragem do dia, já com o pôr-do-sol em perspectiva, no Zanzibar Serena Inn.
A escolha do local não é inocente, até porque o hotel é dos mais emblemáticos de Stone Town, além de ficar frente ao mar.




O charme da velha metrópole
Património da humanidade pela Unesco, Stone Town, a capital de Zanzibar pode, à primeira vista, desiludir os viajantes mais desatentos. Os sinais de decadência são evidentes, assim como são inegáveis as marcas de degradação nos edifícios de influência árabe, portuguesa, inglesa e oriental; a maior parte construída no século XIX com pedra de coral entretanto sujeita à erosão. Mas não leva muito tempo até se lhe perceber o charme próprio de uma ex-metrópole africana, e a sensualidade exótica condimentada com especiarias. Cravinho (o arquipélago chegou a produzir 90% da produção mundial), noz-moscada, caril, pimenta, canela… a combinação dos aromas transporta os sentidos no tempo. As especiarias ficaram do tempo em que a ilha era um importante entreposto do Índico e dava cartas no comércio de escravos. E hoje qualquer loja as tem, assim como os mercados e bazares, que as vendem até em formato souvenir.
A visita à cidade velha faz-se pelas ruas labirínticas, que na maior parte dos casos não deixam passar mais de quatro pessoas em linha (a não ser que furem o fora de jogo), quanto mais carros. O caminho percorre-se a pé, entre bicicletas e motas, mulheres carregadas de compras e de filhos, e bandos de crianças de uniforme escolar que seguem descalças pelas ruelas, brincando e sorrindo aos turistas. Enquanto isso os comerciantes, sentados nas soleiras das portas, esperam que os turistas lhes entrem casa adentro, comprovando que aqui nem as compras são forçadas. O contacto, apesar de raras vezes partir dos locais, é bastante afável, bastando uma expressão facial para se perceber se uma foto é ou não bem-vinda. Não há atropelos e a vida corre devagar, sendo apenas intercalada pelas buzinas dos veículos que se atrevem pelos becos, ou pelo chamamento da oração. A devoção ao islamismo – o arquipélago é maioritariamente muçulmano (97%) – é perceptível tanto nas vestes, como nas orações que, cinco vezes ao dia, reúnem os homens nas mais de 50 mesquitas e locais públicos. Um desses locais é o Jardim Jamituri, junto à Casa dos Sonhos (House of Wonders em inglês e Beit El Ajab em árabe). Mas há outros monumentos que cumprem o ritual da passagem de testemunho entre os vários povos que por ali passaram e assentaram arraiais (persas, sírios, egípcios, africanos, indianos, chineses, portugueses, árabes, holandeses e ingleses) e merecem uma visita. Um deles é a já referida Casa dos Sonhos, que hoje acolhe o Museu Nacional de Zanzibar. Esta foi mandada construir pelo sultão Barghash Bin Said e assim chamada por ser o primeiro edifício em Zanzibar com luz eléctrica e elevador. Outras referências na cidade são o dispensário, já restaurado e hoje conhecido como Centro Cultural Aga Khan; e o Tribunal de Justiça, que apesar de ser um projecto de um arquitecto inglês (J.H. Sinclair) tem estilo árabe e influências portuguesas. Destaque ainda para o Old Fort (construído em 1700 no sítio que já fora ocupado por uma igreja portuguesa); e para o Palácio Museu, o mais recente dos palácios dos sultões, na estrada do porto, com vista sobre o mar.
O dia começara cedo, sobretudo para quem, madrugada dentro, já esperava o pescado no porto dos pescadores. O mesmo ‘catch of the day’ que a vista havia de vislumbrar nas ementas dos restaurantes dos hotéis e, antes disso, no mercado de Malindi, exposto nas bancas ao ar livre tal qual se faz nos mercados da carne e fruta, todos na mesma rua. Por isso, após a tão esperada despedida do Sol nas águas do Índico, é tempo de voltar à preguiça do Baraza.


No príncipio e no fim… a praia
Zanzibar pode ser culturalmente rica, que o é. Mas as praias paradisíacas, de areal branco a perder de vista, e entrecortadas por palmeiras, são o verdadeiro cartão postal do destino. A vista aérea não engana: um verde turquesa imenso, povoado de pequenos ilhéus, a maior parte deserta, e alguns com pequenos vilarejos piscatórios.
O grupo ainda não pisou a areia fina, de textura pó-de-talco, nem espreitou os corais escondidos sob as águas mornas e límpidas, e já está ansioso por chegar ao resort e à praia. Bwejuu, onde fica o Baraza, foi a escolhida. Aí vai descobrir as sensações do mergulho e do snorkelling e, sem demoras ou pudores, entregar-se-á ‘às coisas simples da vida’, onde o mais difícil é decidir entre a praia e a piscina.
Num cenário idílico, com um horizonte aberto (o turismo de massas ainda não mora aqui, graças à exclusividade e luxo dos resorts), é fácil perder-se a noção de tempo. Que o digam os velhos dhwos, pequenos barcos de pesca e transporte que outrora cruzaram o Índico e que ainda hoje deslizam junto às margens. As noites são quentes e ainda convidam a um mergulho em casa, nas piscinas privadas das villas. A isso e a mais dois dedos de conversa. Voltar é que não! Afinal é Fevereiro e está frio lá fora, onde o mundo continua.

A interpretação do sonho de um sultão
Inaugurado em Dezembro do ano passado, o Baraza Resort & Spa é o mais recente dos três hotéis do croata Raguz e é uma ode à presença dos sultões neste destino. À semelhança do Breezes Beach Club & Spas e do The Palms, o Baraza foi construído na praia de Bwejuu (já votada pela revista Condé Nast Traveler como uma das 30 melhores do mundo), a 10 minutos de carro da aldeia piscatória com o mesmo nome e a 50 de Stone Town. Formado por 30 villas (14 T1 e 15 T2, além de uma suite presidencial), o resort apresenta uma fusão de estilos, incluindo o design árabe, swaili e indiano tanto na arquitectura como na decoração.
Além do luxo, o espaço é uma das lições a tirar do empreendimento, já que as villas variam entre 148 e 254 metros quadrados, e estão bastante distantes entre si, numa privacidade ajudada pelo declive do terreno e pelos jardins e vegetação circundantes. Todas têm quarto de vestir e zona de relaxamento (esta uma recriação dos sultanatos), além do(s) quarto(s), sala e casa de banho, e a presidencial vai ao ponto de incluir acomodação para o mordomo. No exterior das villas, o terraço termina numa piscina individual, localizada consoante a vista é o oceano ou os jardins do resort. Na diária – cerca de 700 euros à excepção da presidencial – o serviço inclui pensão completa, bebidas alcoólicas, incluindo cerveja, vinho e cocktails, águas, refrigerantes e chá a meio da tarde, uso do campo de ténis, fitness center e piscina. O Spa e as excursões não estão incluídos, assim como o mergulho e snorkelling, room service e Internet.

Tudo começou em 1992, quando o empresário Raguz há mais de 20 anos radicado no Quénia (em Naioribi detém o Palacina The Residence & Suites) se apaixonou por Zanzibar e foi tomado pela ideia romântica de abrir um hotel de luxo na ilha. O local escolhido era remoto, ideal para o sossego e privacidade dos turistas, mas por isso mesmo desafiante tecnicamente. Com a obra, veio o problema da falta de água potável, electricidade e outras peripécias, como a de uma dieta à base de caranguejo e peixe fresco durante a empreitada. Certo é que o Breezes acabou por vingar e o projecto tem vindo a ser continuado, com novos hotéis ao longo da praia.

TravelTips
Zanzibar

- A 35 km da costa da Tanzânia, o arquipélago é composto por Zanzibar (a ilha maior, também conhecida por Unguja) e Pemba, além de um conjunto de pequenas ilhas. O nome Zanzibar é de origem árabe, e vem da palavra Zangh Bar, que significa “o negro da costa”. Terá sido atribuído pelos árabes no primeiro contacto com os habitantes da ilha.


- O convite ao descanso é feito durante todo o ano. A temperatura média ronda os 25 a 29º graus. Abril e Maio são os meses das chuvas; o pico do Verão é em Dezembro e o do Inverno em Junho.


- A vacina contra a febre amarela é obrigatória. O passaporte deve ter a validade mínima de seis meses e o visto (50 dólares) é obrigatório, mas pode ser obtido à chegada ao aeroporto.


- Não há voos directos. Mas a KLM voa para o destino em code-share com a Kenyan Airways. A ligação pode ser feita via Nairobi (Quénia), ou Dar Es Salam (Tanzânia).


*A jornalista viajou a convite da Across e da Air France

Monday, May 11, 2009

Deus é alagoano?


Ruben Obadia*

O estado de Alagoas é uma das pérolas mais bem guardadas do Nordeste brasileiro. Repleta de encantos, virgem nas paisagens, cosmopolita à escala humana e onde o azul turquesa domina o mar

Em 2003 Carlos Diegues realizou o filme “Deus é brasileiro”, numa adaptação da obra literária de João Ubaldo Ribeiro. Neste, o conhecido António Fagundes encarna a personagem de Deus, cansado dos erros dos homens, que decide tirar férias. Mais do que a história, o que sobressai do filme é a paisagem calcorreada por Deus. O cenário é o Estado de Alagoas, um dos mais desconhecidos destinos do Nordeste para o turista português.
É difícil saber como começar. Se entrando pelo Norte, via Pernambuco, parando nas fantásticas piscinas naturais de Maragogi, se pelo Sul, atravessando o Rio São Francisco de balsa e chegando ao simpático município de Piaçabuçu, através de Sergipe.
Talvez o ideal seja começar pela capital do estado, Maceió. Aqui é um outro Nordeste, especial, moderno e cosmopolita sem perder uma escala humana. O que logo sobressai aos olhos do visitante é a cor do mar, ora azul-turquesa ora verde-esmeralda, ou simplesmente num casamento perfeito e harmonioso entre os dois. Por alguma razão Alagoas já ganhou o epíteto de “Caraíbas do Brasil”. É fácil perceber o porquê. Outro dos cognomes que Maceió ganhou foi de “Cidade das Águas”. Também se entende facilmente, já que possui uma das melhores praias urbanas de todo o Nordeste, com mais de 140 piscinas naturais e 50 lagoas. Um dos atractivos da cidade está mesmo nas piscinas naturais de Pajuçara, acerca de dois quilómetros da costa. Quando a maré baixa é ver as jangadas a zarparem repletas de turistas, onde não falta a cerveja, a caipirinha e, claro, um mergulho junto dos coloridos peixes que se aglomeram no local de destino.
Se a opção é ficar uns dias por Maceió então o ‘spot’ é a Avenida Álvaro Otacílio, que serpenteia a orla costeira. O calçadão convida a passeios de quilómetros e sente-se o pulsar dos habitantes da cidade. E para ajudar os pouco entusiastas por grandes caminhadas – como o autor destas linhas – há sempre um quiosque de praia a cada cem metros onde a cerveja parece adquirir um sabor especial.
Ao nível do alojamento não se pode dizer que a cidade esteja bem servida. O Ritz Lagoa da Anta Urban Resort é provavelmente a melhor grande unidade da capital, mas se vier em família com filhos o Hotel Jatíuca é uma aposta certeira, já que estando no centro da cidade surge implantado nuns invejáveis 62 mil metros quadrados de espaços verdes.
Já ao nível da restauração, Maceió ombreia com os melhores destinos gastronómicos do Brasil. O mineiro Divina Gula é incontornável e o Le Corbu aposta numa cozinha mais requintada e num ambiente mais seleccionado. Já o Wanchako é uma verdadeira instituição mundial. Seriam necessários vários dias (e linhas) para lhe prestar justiça. Para começar, este restaurante peruano de fusão tem uma decoração que até dá vontade de passar uma hora no ‘banheiro’ apenas para apreciar os quadros, a luz, o cheiro. Por aqui já dá para ter a ideia de estarmos perante um local de peregrinação. Depois há a carta, e que carta! Vale até a viagem, vai uma aposta?
Mas deixemos o pecado da gula para trás. O ideal agora é dar uma caminhada pelo calçadão e parar no Lopana, o melhor bar de praia de Maceió. ~

Praias para todos os gostos
Voltemos às praias da cidade. Se para os lados do Ritz Lagoa o mar surge picado com mais ondulação, a fazer lembrar as saudades do nosso Atlântico, à medida que se percorre a Álvaro Otacílio o oceano vai se tornado uma lagoa tranquila e de água tépida.
Mas a praia da moda dá pelo nome de Praia do Francês e dista apenas 20 kms da capital alagoana. Diremos que tem tudo aquilo que faz fugir o europeu… da Europa. Restaurantes e bares amontoados, dezenas e dezenas de comerciantes na praia, barulhentos jet-ski, espreguiçadeiras coladas com a dos vizinhos e… milhares de veraneantes, num ensurdecedor ruído a convidar para outras paragens. O destino é a idílica Praia do Gunga, eleita como uma das melhores praias do Nodeste. No entanto, há duas praias do Gunga bem distintas. Mais próximo da Ponta do Gunga, surge a praia cosmopolita , com chuveiros e barraquinhas. Mas é no lado direito, lá depois da curva, que se vislumbra a essência que celebrizou o Gunga: areal quase virgem, salteado por coqueiros, a beijar um mar tranquilo, sobre o qual se espraiam típicos barcos de madeira, como se ali tivessem desde sempre. O pôr-do-sol aqui é a maneira da Natureza gritar que afinal, Deus é mesmo brasileiro. E já que falamos na obra de Deus, o que dizer da Praia de Ipioca e do seu restaurante Hibiscus? Se é descanso que procura, eis o seu Paraíso. Aliás, um placard à entrada da praia dá o mote: “Aqui vivemos felizes”! Não duvidamos. O restaurante Hibiscus surge neste contexto de difícil categorização. É certo que é um belíssimo restaurante mas, mais do que isso, é um local de puro ócio. Já a praia é praticamente virgem, a convidar para um daqueles memoráveis dias de praia que entram directo para o baú das boas recordações.
Um passeio de barco, partindo da inexplorada Barra de São Miguel, no Trimarã Caio Mar VIII é outra das experiências a não perder, com a garantia de ganhar lastro à medida que o mestre Caio desfila os pratos da gastronomia alagoana.
Outra visita a não perder é à Praia do Carro Quebrado. A viagem para lá chegar já é em si uma aventura digna de registo e lá chegados somos surpreendidos por falésias de areias coloridas.
A sensação com que se sai de Alagoas é que este é um estado guardado em segredo pelos brasileiros que o querem só para eles. É justo. Se tivesse praias e paisagens como aquelas também eu passava a ser egoísta.

* O jornalista viajou a convite do novo operador R2F - Ready 2 Fly

Thursday, April 16, 2009

Baja California Sul, o deserto improvável


Ruben Obadia


Baixa Califórnia Sul é um destino desconhecido dos portugueses, mas não lhe faltam argumentos para se assumir como uma das mais fortes apostas do turismo mexicano

Confesso a minha ignorância. Até ter recebido o convite do Turismo do México para visitar a “Baja Califórnia Sur” nunca tal tinha ouvido falar. Na Internet vários ‘sítios’ falavam do destino com paixão e entusiasmo, não poupando em adjectivos para o qualificar como uma das mais recentes pérolas do turismo mundial. Não me deixei convencer e decidi ver com os próprios olhos essa pérola que tanto falam e que nós, portugueses, tão pouco conhecemos.
Primeiro dado a reter. Qualquer semelhança entre a Califórnia dos Estados Unidos e a do México fica-se apenas pelo nome. O estado da Baja Califórnia Sul fica situado numa enorme península na região noroeste do México. Tem como fronteiras a Norte o estado da Baja Califórnia Norte, a Oeste e Sul o Oceano Pacífico e a Este o Mar de Cortéz. A capital é La Paz, junto ao Golfo da Califórnia, e é daqui que podemos partir à descoberta de Peurto Balandra, uma lagoa que conta com oito baías mais pequenas, e onde é possível encontrar El Hongo (cogumelo), uma formação rochosa que se tornou no símbolo da cidade. A Ilha do Espírito Santo e a Ilha Partida merecem também uma visita.


É na Baja Califórnia Sul que nos perdemos de encantos pela Natureza, com uma biosfera única que atinge o seu esplendor no El Vizcaíno, a zona protegida mais extensa da América Latina, ocupando uma área de 25 mil metros quadrados. É aqui que encontramos a Lagoa de Santo Ignacio e a Lagoa Ojo de Liebre, locais conhecidos pela reprodução das baleias cinzentas. Também nesta zona deparamo-nos com as misteriosas pinturas rupestres da Serra de San Francisco.

Los Cabos para turista ver
Mas a maior surpresa estava reservada mais para Sul, mais concretamente na região onde o Pacífico abraça o Mar de Cortéz. É aqui que se situa uma zona conhecida por Los Cabos, um corredor turístico com cerca de quarenta quilómetros, que liga as cidades de Cabo San Lucasa e San José del Cabo. O destino tem sido uma das mais fortes apostas do governo mexicano e é local chique de peregrinação para americanos endinheirados. No referido corredor sou surpreendido por um, dois, três, muitos campos de golfe. É então que informam que Los Cabos quer-se afirmar como um dos principais destinos de golfe do mundo. É fácil perceber porquê. Assistimos a um “milagre” improvável, já que o verde dos greens choca com a paisagem desértica, típica da região, pululada por cactos gigantes ao bom estilo do Oeste. Pela estrada deparamo-nos com sinais apontando para o campo de golfe Jack Nicklaus, Tom Fazio, Robert Trent Jones, II, Tom Weiskopf ou The Dye Corporation. E depois, como dizia um golfista, há sempre o risco de estar a jogar enquanto se assiste à dança de uma baleia no horizonte.


Oferta hoteleira
Quanto a hotéis a qualidade e diversidade impressiona. Há de tudo e literalmente para todos os gostos. No corredor turístico encontramos a oferta mais sofisticada e exclusiva, com unidades como One&Only Palmilla, Westin Regina (simplesmente fantástico!), Hilton Los Cabos, Melia Cabo Real, Dreams, Fiesta Americana ou um Sheraton Hacienda del Mar. O difícil está mesmo na escolha. Mas se esta recair em locais onde a vida nocturna é rainha, então Cabo San Lucas é o local de eleição, onde não falta um Nikki Beach situado no Hotel ME by Melia Cabo. Em San Lucas encontramos uma pequena cidade mexicana moderna e cosmopolita, onde se deve evitar a qualquer custo a praia. Não é que não seja boa, mas aqui domina o american way of life e conceitos como paz e espaço estão de todo arredados do vocabulário local. Em resumo, San Lucas é uma espécie de Cancun mais moderno e talvez até mais sofisticado mas onde só se entra com dinheiro, muito dinheiro. O melhor indicador é passear pela marina e apreciar a quantidade e dimensão dos iates aí presentes. Também, diga-se em abono da verdade, estamos na capital mundial da pesca do marlim e não há pescador no mundo que não gostasse de ter um exemplar da espécie como galardão.


Mas é fora do dito corredor artificialmente construído pelo homem, mas onde abundam todas as comodidades, que entramos em contacto com este estranho mundo. Um mundo onde somos contemplados pelo azul do mar de um lado e o inóspito deserto do outro. Não há nada, não cresce nada e o único murmúrio vem do mar bravo, que de Pacífico tem pouco. Depois é partir há descoberta, de preferência num jeep bem artilhado. Sim, que as estradas só as principais, tudo o mais nunca viu o cheiro do alcatrão. Aventurar-se pelos cerritos e descobrir praias depois de palmilhar muitos quilómetros. E quando falo de praias refiro-me a autênticos santuários de pelicanos em centenas de metros de areia fina onde não faltam oásis e riachos. Isto é a Baja Califórnia. Selvagem, quente, indomada.


A não perder

Viagem à pequena cidade de Todos Los Santos, parte da Rota dos Pueblos Mágicos. Situa-se a pouco mais de uma hora de San Lucas, rodeado de milhares de palmeiras, estamos perante um local com encantos especiais. Talvez seja devido à diversidade de galerias de arte, à variedade de restaurantes, às lojas de gostos refinados ou aos hotéis boutique… mas há ali qualquer coisa que não nos deixa indiferente. Em Todos os Santos impera um ambiente chill-out e a cidade esta pejada de turistas. Percebe-se porquê. É aqui que se encontra o Hotel Califórnia, imortalizado pelos Eagles, onde, como rezava a canção, “se pode encontrar um quarto em qualquer altura do ano”. Bem, isso foi antes. Agora o difícil é fazer uma reserva…

Búzios encantados


Ruben Obadia


Búzios, ou mais correctamente Armação de Búzios, tem algo de familiar para o português que pela primeira vez a visita. Para começar pela escala de construção, uma vez que os edifícios não ultrapassam os dois andares, com um estilo arquitectónico próprio onde predomina a utilização de materiais rústicos. Depois, em Búzios tudo começa e acaba em torno da Rua das Pedras, onde se encontra várias lojas de roupa de marca, artesanato e restaurantes cuja qualidade ombreia com o que de melhor o Brasil tem para oferecer.


Situada a 165 quilómetros do Rio de Janeiro, na Região dos Lagos, e fazendo fronteira com a cidade de Cabo Frio, Búzios é uma península com 8 quilómetros de extensão e mais de duas dezenas de praias. Mas não é no número de praias que reside um dos encantos da região, mas mais pela sua variedade. De um lado a península é banhada pelas correntes marítimas do Equador e do outro pelas águas geladas do Pólo Sul. Assim, existe praticamente uma praia ao gosto de qualquer tipo de turista. Desde a mais isolada e de difícil acesso reservada à prática do nudismo, como é o caso da Olho-de-Boi; às mais pequenas como a Ferradurinha ou Azedinha; a cosmopolita João Fernandes ou a mais badalada Geribá, onde o surf é rei e senhor. A dificuldade mesmo vai ser na escolha.

Porto de Corsários
Por volta do século XVII, Búzios era porto de abrigo de corsários e piratas, que a utilizavam para contrabandear pau-brasil e vender escravos. Ainda nesse século, e como resultado de batalhas sangrentas, os franceses foram expulsos da região, tendo daí resultado a quase extinção da população indígena – os índios Tupinambás. No final desse século o lugarejo de Búzios era constituído por apenas 20 habitações.
Só no início do século XX é que a vila começa a assistir novamente a alguma movimentação, com a chegada de imigrantes portugueses que, juntamente com a população local de pescadores, introduziram novas técnicas de pesca. Foi neste período que foi construída uma estrutura para capturar baleias – Armação de Baleias -, tendo dado origem ao nome da própria vila: Armação de Búzios. Os ossos das baleias capturadas eram então enterrados na praia ao lado da Praia da Armação, tendo estado na origem do seu nome: Praia dos Ossos.
Mas só nos anos 50 é que Búzios começou a despertar lentamente para o turismo, tornando-se local de férias da elite carioca e paulista que ali começaram a construir casas. No entanto, o mundo ficou a conhecer Búzios quando, em 1964, a conhecida modelo francesa Brigitte Bardot escolheu o local para passar um mês de férias. Desde aí Búzios entrou no mapa e não mais saiu dele. A fama foi tanta que mereceu mesmo uma estátua da estrela, sentada em cima de uma mala, a contemplar o mar… na Orla Bardot!

O que fazer?
Actualmente, mais de quatro décadas passadas de tão ilustre visita, Búzios mantém a sua aura intacta. Desenvolveu-se o suficiente. Cresceu mas não desmesuradamente. Os encantos estão lá todos. Assistir ao pôr-do-sol na Praia da Armação ou no porto de madeira ali construído, e que serve de ponto de partida para as inúmeras excursões de barco, é uma experiência inolvidável. O mar vira prata rendilhada, onde sobressaem as cores alegres dos caícos (barcos a remos). Depois é só seguir pela Orla Bardot até à Rua das Pedras, lentamente, sem pressas. Comer bem não será o último dos seus problemas, tal a qualidade e diversidade da oferta existente. Enumerá-los era incorrer no grave pecado de esquecer um bom prato, mas há desde tailandeses a italianos ou franceses. O difícil mesmo será encontrar um restaurante de comida típica…brasileira.


Quanto à noite propriamente dita, adivinhe onde tudo se passa? Pois é… na Rua das Pedras, para não variar. No Conversa Fiada pode observar quem passa na rua, no Zapata vai viajar até ao México, no Anexo’s Bar mergulho no moderno estilo lounge, para música ao vivo tem o Pátio Havana, o Chez Michou serve-lhe uns crepes quando a fome já aperta e se quer mesmo gastar energias até de manhã o “point” é a discoteca Privilege.


Quanto a alojamento, Búzios mantém-se fiel às suas origens. A excepção vai para o Hotel Atlântico Convention & Resort, que dispõe de 135 apartamentos. Mas na cidade e arredores quem mais ordena são as Pousadas de Charme (umas com mais charme que outras). Destaque para o Casas Brancas Boutique Hotel e Spa, um pequeno paraíso de 32 quartos e o Ville La Plage Pousada & Resort, na Praia João Fernandes. Mais para o interior, escondido no meio da vegetação surge o elegante La Foret. Estas duas últimas pousadas tem a curiosidade de terem como proprietário um português rendido aos encantos de Búzios.


Mas Búzios é assim mesmo. O difícil mesmo é resistir-lhe. E quando na hora da partida, uma parte de nós passa a sentir-se Buziano ou no mínimo… a invejá-los.

Um paraíso Para... ty!


Ruben Obadia

Reza a lenda que quando Deus estava a distribuir as terras do mundo, o Diabo veio reclamar a sua parte. Sem saber bem o que fazer, Deus apontou para o primeiro pedaço de terra que avistou ao longe, escondido entre a terra e o mar, e disse: “Lá, aquilo é para ti.” O facto deu origem a uma confusão no céu que terá estado na origem da expulsão do Diabo e da sua legião de seguidores para o Inferno. E para não se rebaixar, o dito rejeitou o presente, dando então a ideia a Deus de criar no local um pequeno pedaço do Paraíso”. A história da origem do nome de Paraty é contada pelos locais com visível orgulho. No entanto, há explicação bem mais simples (e lógica) para a denominação do pequeno município brasileiro do sul do estado do Rio de Janeiro: o nome vem do tupi Peixe Branco.

Situado a meio caminho entre o Rio de Janeiro e São Paulo, o município de Paraty conta actualmente com pouco mais de 30 mil habitantes, situando-se na Baía da Ilha Grande. A história da cidade confunde-se com a própria história de descoberta do Brasil, sendo local de entrada de expedições de aprisionamento de escravos índios, local de passagem do ouro transportado de Minas Gerais no séc. XVIII e, mais tarde, porta de entrada clandestina de escravos no Brasil. Mais tarde, já no século XIX surge o Ciclo do Café e com ele a cidade vira-se para a produção de aguardente, chegando a ter cerca de 200 destilarias. Por isso é que ainda hoje Paraty é sinónimo de boa pinga. O facto foi até imortalizado pela famosa Cármen Miranda que cantou: “Vestiu uma camisa listrada e saiu por ai em vez de toma chá com torrada bebeu Paraty.”


Findo este período a cidade entra em decadência, ficando votada ao abandono durante quase um século. Curiosamente, o sucesso de Paraty fica em dever-se em muito a este abandono, uma vez que manteve intacto o centro histórico da cidade, marcadamente colonial. Nos anos 60 do século passado é reconhecida como Património Histórico e Artístico Nacional.

O centro histórico é ordenado geometricamente, dominado por casarios pintados de branco com faixas rosa ou azuis pintadas, onde sobressaem estranhos símbolos, em torno de janelas de guilhotina, remetendo os visitantes para os tempos coloniais, como se de um cenário de filme se tratasse. Mas toda esta organização e mesmo os tais símbolos como a estrela de David ou de Salomão, a lua minguante ou crescente, entre outros, é atribuída à maçonaria, já que Paraty foi sede de uma loja maçónica denominada União e Beleza.

Mas voltemos ao centro da cidade, onde é proibida a entrada de veículos, e nas ruas impera a pedra escura irregular. E é tão irregular que se atribui ao piso a principal razão para os paratienses raramente cumprimentarem alguém quando se cruzam na rua, é que estão demasiado ocupados a olhar para o chão para não caírem.

Actualmente o centro de Paraty é dominado por inúmeras pousadas de charme, óptimos restaurantes e lojas de artesanato, onde os artistas fazem os seus trabalhos à vista dos transeuntes.

Mas para lá do interesse histórico da cidade, Paraty é dominada pela sua baía recortada, numa extensão litoral de 180 quilómetros, dando origem a várias enseadas, penínsulas e ilhas, 55 ao todo. Já a sul encontra-se a vila de Trindade, um local de pescadores, mas dominado por praias dignas de um postal. A curta viagem vale a pena, apesar de no caminho atravessar um morro com o elucidativo nome de Deus-me-livre. Espera-o a Praia Brava, onde não falta uma fonte de água doce, segue-se a Praia do Cepilho, a de Fora e a dos Codois, terminando na paradisíaca Praia do Cachadaço.

De volta à baía pululada por inúmeras ilhas os cenários são tantos e tão diversos que aconselha-se um passeio de barco. E um dia não chega. Aconselha-se uma paragem na Ilha do Catimbau, onde um único restaurante assente nas pedras proporciona uma experiência memorável.
E por falar em experiências, nada como beber uma cerveja gelada no Café Paraty, local de famosos, almoçar no Margarida Café, tomar a pinga Maria Isabel, um belíssimo alambique situado à beira mar, percorrer o antigo Caminho do Ouro, e fechar a tarde com um retemperador mergulho numa das inúmeras cachoeiras da região.


De facto, quem hoje visita Paraty agradece ao Diabo não ter reclamado o local para ele.

Marraquexe, o império dos sentidos


Ruben Obadia*


“Que pena que já não possas ver mais

as muralhas vermelhas de Marraquexe

e a multidão que ao teu lado caminha

na porta de Essaouira


Que pena que já não vejas

as jacarandás, as roseiras, as buganvílias dos jardins

que não oiças o som da água nas fontes

que não escutes o silêncio dos pátios

que não vejas as estrelas nos terraços


Que pena que já não possas alisar com a mão

os azulejos do Palácio Bahia

Que pena que não vejas todas as coisas que amávamos

que não caminhes, não sintas, não te percas

em Marraquexe - a mais bela das cidades do Sul."


O poema foi encontrado escrito em berbere numa tábua de madeira num quarto de um antigo riad e ilustra bem as paixões que Marraquexe desperta. Apesar de tudo, quem a visita pela primeira vez, estranha-a, acha-a ameaçadora. Com o passar dos dias, o sentimento inicial vai-se esbatendo à medida que nos vamos familiarizando com uma cidade que vive em aparente anarquia e disso faz gala. Á medida que nos perdemos no interior da Medina, por entre um labiríntico emaranhado de ruelas e becos, apanhamos o pulso o pulso à capital do Sul de Marrocos. Depois há o cheiro das especiarias sempre presente, as cores que misturam o azul berbere com o verde marroquino, os sons dos burros que passam ou dos negociantes em plena actividade, o olhar fugidio das marroquinas que passam escondidas por detrás do véu.Marraquexe é muito mais que isto. É uma cidade de fusão, onde se assiste a sinais evidentes de concessão ao ocidente sem nunca perder de vista a sua identidade. O tradicional convive bem com a sofisticação, novas discotecas, restaurantes e hotéis de charme abrem a um ritmo frenético e emprestam-lhe uma atmosfera cosmopolita.


Há também ali algo das “mil e uma noites”, de misterioso, que nos remete para um autêntico cenário lendário, onde passamos a ser intervenientes por direito próprio.
A cidade começou a tomar forma no século XI e começou por um imenso palmeiral, conhecido por Palmeraie, e que hoje alberga condomínios de luxo e mansões das arábias. Curiosamente, reza a lenda que o fundador da cidade, Youssef ben Tachfine, e os seus soldados, ali estabeleceram um acampamento, alimentando-se de tâmaras oriundas do Atlas. Os caroços eram cuspidos para o chão e, deste acto involuntário, terão brotado milhares de palmeiras que ainda hoje ali perduram. E foi graças às palmeiras que Marraquexe floresceu, já que o extenso oásis que ali nasceu acabou por atrair as inúmeras caravanas de camelos do Sul.A cidade tem uma cor inconfundível, vermelha, a que se deve o seu cognome de Cité Rouge. Elemento distintivo é a extensa muralha (com 12 kms) que a custo tenta conter o rebuliço da Medina. É neste local aliás que estão concentrados a maioria dos monumentos de Marraquexe.

O esplendor da Djemaa el-Fna
O melhor conselho a dar a quem pretende visitar pela primeira vez a cidade é começar pela majestosa praça Djemaa el-Fna, bem no centro da medina. Assistir ao pôr do sol em plena Djemaa, sentado no terraço de um dos inúmeros cafés que circundam a praça enquanto bebe um típico e adocicado chã verde com hortelã, é contemplar um espectáculo digno de um qualquer filme do Indiana Jones. É fácil perceber de onde veio a inspiração. No local, com uma dimensão quatro vezes maior que o nosso Terreiro do Paço, assiste-se a uma miríade de cenas e espectáculos. Dos vendedores de fruta, com destaque para as laranjas e tâmaras, a uma tenda gigante onde centenas de personagens cozinham uma variedade de iguarias onde a gordura é dona e senhora. E depois há os espectáculos, imperdíveis. Míticos encantadores de serpentes, macacos amestrados a posar para as fotos, tatuadoras de henna, malabaristas, músicos, contadores de histórias, disputas de boxe e mesmo curandeiros. Tudo tem um custo em dirhams (a moeda local, 1 € = 11 MD) e o simples apontar curioso de uma pouco ameaçadora máquina fotográfica digital pode dar direito a uma discussão interminável. A regra é: perguntar primeiro, fotografar depois.Na ponta do sudoeste da praça localiza-se a distinta mesquita Koutubla, embora a sua beleza só possa ser admirada por quem professa a religião de Maomet. A nós resta-nos olhar de fora e sonhar com o que se esconde por trás daquelas portas. Já na zona Norte da Djemaa el-Fna é possível mergulhar no absurdo mundo dos mercados, os mágicos souks. Prepare a sua paciência porque espera-o uma batalha negocial para adquirir a mais insignificante peça de artesanato local. Não há volta a dar, os marroquinos gostam de negociar e elevam a coisa ao patamar de arte teatral. Na realidade, no novelo de ruelas que vão até à imponente madrassa Ali Ibn Yusuf, antiga escola corânica, é possível encontrar de tudo e para todos os gostos. Tecidos, lenços, bijutaria, antiguidades, instrumentos musicais, ourives, são apenas alguns exemplos.Ali, ser português é vantagem ou não fossemos nós do país do “Cristiano Ronaldo e do Porto do Tariq”.Há também quem nos conheça, estranhamente, por outra característica: o de sermos o povo do sorriso!


Os monumentos obrigatórios
Entre os monumentos de visita obrigatória encontra-se a Ménara, um vasto jardim, com oliveiras centenárias, irrigado por um enorme lago, onde se encontra um elegante pavilhão construído em 1870 pelos Saadianos; o Palácio da Bahia, construído em 1880 a mando de Ba Ahmed, grande vizir do sultão; os Túmulos Saadianos, um jardim-cemitério que abriga as tumbas dos reis saadianos e suas famílias ali enterrados a partir do século XVI; o Palácio El Badi, concluído em 1603 pelo sultão Ahmed El Mansour, que é considerado uma jóia da arte islâmica. No seu tempo ganhou fama de ser um dos palácios mais belos do mundo, também conhecido como “o incomparável” e, apesar do que se observa hoje ser apenas uma parte do total, é fácil imaginar a sua magnificência. Finalmente, aconselha-se um passeio pelo Jardim Majorelle e entrada no Museu de Arte Islâmica. Em excelente estado de conservação, ao contrário de muitos dos monumentos anteriores, o jardim oferece uma inspiradora e relaxante experiência, dada a variedade de lagos, plantas e aves, assim como o edifício ícone de Jacques Majorelle, com o seu azul como marca de água. Actualmente o Jardim Majorelle é propriedade do conhecido estilista Yves Saint Laurent.O nome da estrela da moda surgir associado a Marraquexe só pode causar estranheza aos mais incautos. A realidade é que a cidade está na moda, sendo local de férias para muitos famosos de Hollywood que ali compraram casa, bem como inúmeras famílias francesas da classe média que adquiriram e recuperaram riads na cidade.Ao nível da gastronomia, o cuscuz de borrego ou de vegetais, a tangine ou a pastilla são imperdíveis mas não aconselhados para estômagos sensíveis. Os vinhos são de boa qualidade, uma herança da colonização francesa. E restaurantes de qualidade são algo que abunda em Marraquexe, desde os mais modernos aos clássicos, instalados em riads primorosamente recuperados.Também na noite, há bares e discotecas para todos os gostos, mas o destaque vai para o Pacha Marrakech, em plena avenida Mohamed VI. Para além da sua impressionante dimensão, o local, que reúne uma discoteca, um bar e três restaurantes, é da autoria do arquitecto português Miguel Câncio.


*O jornalista viajou a convite do Turismo de Marrocos

Sun City, o paraíso perdido


Ruben Obadia*


Fernando Pessoa escreveu um dia “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. É certo que Sun City estava ainda longe de ser erguida mas se há local no mundo onde esta máxima faz sentido é neste resort situado a 187 kms de Joanesburgo, África do Sul.
Circundado pelas imponentes montanhas do Pilensberg, Sun City começou a nascer na década de 70 pela mão de um visionário, Sol Kerzner. O empresário afirmou um dia ser “o Indiana Jones dos negócios” e é fácil perceber porquê. O resort remete-nos para uma cidade perdida na selva, onde a atenção ao pormenor, aos pequenos detalhes, chega quase a ser uma obsessão.
A primeira unidade a ser inaugurada foi o Sun City Hotel, construído em 1979 junto ao actual campo de golfe com a assinatura de Gary Player. É aqui que se situa o casino, no seu tempo o único local na África do Sul onde era permitido jogar, e o Sun City Theatre, com 640 lugares. Dispondo de 340 quartos, todos orientados para uma piscina, este quatro estrelas disponibiliza uma variedade de bares e restaurantes, desde o Orchid, especializado em comida asiática, ao Raj, indiana, Calabash, comida sul-africana, entre outros. Quase 30 anos após a sua construção, o Sun City Hotel iniciou em 2007 um processo de renovação das suas infraestruturas, num investimento global de 21 milhões de euros que ficará concluído em Novembro deste ano. Estas mudanças fazem-se sentir não só ao nível da decoração dos quartos como também no aumento e modernização das casas de banho. Segundo Boris Bornman, director de operações do Sun City Resort, “o design está em harmonia com o verde da vegetação do exterior e a paisagem de cortar a respiração”.


Em 1982 abria o segundo hotel de Sun City, o The Cabanas, um três estrelas, situado junto a um lago, com uma vocação clara para acolher famílias. Com 380 quartos, oferece um conjunto de equipamentos concebidos a pensar nas crianças, com destaque para o Kamp Kwena Fort, um aviário que acolhe aves exóticas, uma quinta ecológica, mini-golfe, gaivotas e trampolins. Também neste caso o Cabanas foi alvo recente de uma profunda remodelação. Apesar de o lobby manter a sua decoração original, um mosaico de papagaios, peixes e flores, a intervenção fez-se sentir ao nível das habitações. Os quartos surgiram de cara lavada, apostando num design retro de estilo europeu, predominando o rosa e o verde-água. Mas se pensa que o facto de estarmos perante um três estrelas isso o diminui face aos seus ‘irmãos’ mais ostensivos, desengane-se. O Cabanas talvez seja o hotel que oferece o ambiente mais descontraído do resort e disso faz gala.


Dois anos após a abertura do Cabanas, em 1984, abria o Cascades. Ao longe assemelha-se a uma pirâmide maia. Puro engano! Estamos diante um cinco estrelas, com 243 quartos, envolto em jardins luxuriantes e que disponibiliza duas piscinas, uma delas aquecida.


Mas a verdadeira pérola estava guardada para o fim. Em 1992 nascia o The Palace of the Lost City, um ‘seis estrelas’ onde nada, mas mesmo nada foi e é deixado ao acaso. Feche os olhos e imagine uma tribo africana fluorescente, rica, imaginativa, onde o conhecimento e o respeito pela natureza fosse o seu bem mais precioso. Continue com os olhos fechados e imagine agora a sua cidade, as ruas, os jardins, os lagos, os recantos. Pode abrir agora os olhos e vai descobrir que imaginou o Palace ao pormenor. Com 338 suites, o destaque vai para as camas king-size esculpidas manualmente. O salão de chá é local obrigatório de peregrinação e o Villa del Palazzo, um restaurante que aposta na gastronomia italiana, surpreende pela inclusão no seu menu de vários pratos de caça.


* O jornalista viajou a convite da Across